Copa do Mundo de Futebol e protestos: de 1930 a 2014

Em 1930, o pontapé inicial no estádio Centenário, no Uruguai, marcava o início do que se tornaria o maior espetáculo esportivo mundial. Certamente os atores envolvidos naquela primeira Copa do Mundo de Futebol da FIFA ansiavam pelo sucesso, mas dificilmente tinham noção do que o evento, e a própria FIFA, se tornariam para o mundo. Em virtude do Brasil como sede da XX edição da competição, aproveitaremos este espaço para discutir questões envolvendo esporte, política, memória e, claro, história.

Escolhido para sediar a XX Copa do Mundo em 2014, o Brasil, maior campeão do torneio com cinco títulos (1958, 1962, 1970, 1994 e 2002), vive hoje um momento de grandes contradições sobre a grande festa do futebol mundial. As manifestações que começaram em junho de 2013 –cabe ressaltar que a reivindicação inicial era pela melhora no sistema público de transportes- transformaram-se em um espaço de contestação ao evento, com gritos cada vez mais fortes de “Não vai ter Copa!”. A realização da Copa das Confederações em 2013, também este um evento organizado pela FIFA, mostrou a disposição de grande parte da população brasileira em mostrar ao mundo sua insatisfação com os altos gastos que os chamados megaeventos significam para o país.

Mas, de fato, os protestos não são uma novidade no mundo esportivo, e muito menos nas Copas do Mundo. As próprias seleções participantes fizeram, de maneiras diversas, seus protestos. A forma mais comum de se manifestar era simplesmente não parricipando. Além do caso da Inglaterra, país considerado o inventor do futebol moderno, mas que passou décadas se recusando a entrar em campo contra seus rivais no torneio da FIFA, Uruguai e Argentina também boicotaram alguns eventos. Em 1934, o Uruguai se recusou à jogar na Itália, e defendia que apenas respondia ao boicote feito pelos europeus em 1930, na Copa realizada em seu território.

A ausência da Argentina foi longa como a da Inglaterra. Nas Copas de 1934 e 1938, os argentinos se recusaram a participar como forma de denunciar a Itália por “roubarem” seus jogadores com ascendência italiana, desfalcando, assim, a seleção do país de Gardel. Em 1950, na primeira Copa realizada no Brasil, novamente os argentinos se recusaram a participar, alegando diferenças entre as associações de futebol dos dois países.

Mas, o principal caso de destaque envolvendo a Argentina não foi em relação à seleção, mas à Copa que foi realizada naquele país em 1978. Desde 1976, o país vivia sob uma ditadura civil-militar marcada pelo terrorismo de Estado e a violação de direitos humanos. Com a negativa da FIFA em mudar a sede, diversas organizações internacionais passaram a propor o boicote à competição. Na França foi organizado o COBA, Comitê de Boicote à Copa do Mundo na Argentina, que fez uma forte campanha de denúncia contra o regime argentino e o uso do esporte para interesses políticos. O evento ocorreu sem maiores problemas, e a Argentina garantiu em casa sua primeira vitória na competição. Apesar de alguns considerarem que a realização da Copa foi uma derrota para os que denunciavam as violações de direitos humanos e a violência política naquele país, é importante ressaltar que foi exatamente pelo destaque recebido pelo evento que conseguiu-se trazer a questão política argentina para a agenda internacional.

Apesar do que as grandes Federações procuram afirmar, esporte e política sempre caminharam juntos, e assim continuarão. E o Brasil, em virtude dos próximos megaeventos esportivos que irá sediar, se tornará palco também das mais diversas manifestações políticas. Nos próximos meses, veremos o resultado de tais ações, que certamente já marcam a Copa naquele que se considera “o país do futebol”.

 

 

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