James N. Green on (Homo)Sex and Revolution in Brazil
Sexuality and Revolution: HAHR’s First Open Forum
Curated by Bryan Pitts, Duke University
The editors of the Hispanic American Historical Review invite you to participate in an open forum on James Green’s article. Please post any comments below. You may access the full text of the article for free here:
The HAHR editors will host periodic online forums to invite debate among scholars and other interested readers on issues of critical importance to Latin American and Caribbean societies. The next forum will take place in February of 2013.
Sincerely,
Pete Sigal, Jocelyn Olcott, and John D. French
Senior Editors
“Who Is the Macho Who Wants to Kill Me?” Male Homosexuality, Revolutionary Masculinity, and the Brazilian Armed Struggle of the 1960s and 1970s
James N. Green
The Hispanic American Historical Review 92:3 (August 2012), pp. 437-469
Abstract
Several thousand students joined small clusters of soldiers, workers, and others in revolutionary opposition to the Brazilian civilian-military dictatorship that came to power in 1964 and controlled the government for two decades. Operating underground, these left-wing activists engaged in diverse efforts to organize an effective guerrilla opposition to the authoritarian regime. Within their ranks, some militants who had homosexual desires faced a hegemonic culture of the left that considered same-sex sexuality a reflection of “bourgeois decadence,” an immoral aberration, and an affront to proper revolutionary behavior. This article explores how leftist Brazilians with homoerotic desires negotiated norms of compulsory heterosexuality and constructions of revolutionary masculinity in the 1960s and 1970s as they lived in the underground, among members of different political organizations while imprisoned, or in political exile.
Resumo
Alguns milhares de estudantes se juntaram a pequenos grupos de militares, trabalhadores e outros em oposição revolucionária à ditadura civil-militar brasileira que chegou ao poder em 1964 e controlou o governo por duas décadas. Agindo em segredo, estes militantes esquerdistas se empenhavam em diversos esforços para organizar uma oposição guerrilheira eficaz ao regime autoritário. Entre as suas fileiras, alguns militantes que tinham desejos homossexuais enfrentavam uma cultura hegemônica de esquerda que encarava a sexualidade entre as pessoas do mesmo sexo como reflexão da “decadência burguesa”, uma aberração imoral e uma afronta ao comportamento revolucionário correto. Este artigo analisa como os brasileiros esquerdistas que tinham desejos homoeróticos negociaram as normas da masculinidade revolucionária nos anos 1960 e 1970 durantes suas vidas na clandestinidade, entre integrantes de diversas organizações revolucionários enquanto presos ou no exílio político.
Introduction
Moderator’s Note / Nota do Moderador: James N. Green has provided the following introduction to the article under discussion / James N. Green forneceu a seguinte introdução ao artigo sob discussão. (Tradução abaixo)
“(Homo)Sex and Revolution”
Anyone attending São Paulo’s LGBT Pride march held in late June every year is immediately impressed by the swirling mass of people who crowd behind oversided sound trucks and dance to the rhythm of disco and pop music while moving slowly down Paulista Avenue. Organizers estimate that three million people have attended in recent years, making it the largest such parade in the world. From giant platforms perched high atop huge moving vans, drag queens, go-go boys, politicians, and lesbian and gay activists wave enthusiastically to the throngs below. Red flags of the Workers’ Party (PT), the United Socialists Workers Party (PSTU), and the Socialism and Freedom Party (PSOL) flutter in the breeze, and banners of the most militant trade unions and national federations declare their support for lesbian and gay rights and denounce homophobia.
From the number of Workers’ Party candidates and elected officials applauding to the crowds below, one would assume that the marriage between the LGBT movement and leftwing politics was decades old, effortless, and without much history of conflict. That is, of course, not the case. In fact, the path toward an alliance between leading sectors of the LGBT movement and the Brazilian left has been long, circuitous, and wrought with conflicts and tensions.
The essay “Who is the Macho Who Wants to Kill Me?” is an attempt to uncover one aspect of the history of the Brazilian left’s attitudes toward homosexuality. Those who have read my first book Beyond Carnival: Male Homosexuality in Twentieth-Century Brazil may be familiar with my articles on the history of the Brazilian LGBT movement. Those who are aware of my personal relationship to this movement know that the question of the Brazilian left’s relationship to homosexuality has been an interest of mine for over thirty years. Prior to working on this article, however, I had not explored the ways in which the armed struggle left in the 1960s and ‘70s dealt with members of their organizations who had romantic or sexual desires for people of the same sex.
Ivan Seixas, the main storyteller of the article, caught me by surprise with his openness in discussing the topic of homosexuality when I interviewed him for the first time about international human rights campaigns in the defense of Brazilian political prisoners. Although I have no doubt that the transformations that took place within the Brazilian left since the return to democratic rule have contributed to his seemingly nonchalant attitude toward same-sex sexuality, his recounting of his experience in prison also reveals the complexities and diversities of opinions that no doubt circulated within the revolutionary left in the 1960s and 70s. In doing research for a biography of Herbert Daniel, a former leader of the guerrilla movement who later was an important spokesperson for people with HIV/AIS, I have discovered that the framework of a homophobic left versus victimized homosexual militants is an incomplete and unsatisfactory approach to the topic. There is a much richer story to be told.
I look forward to this conversation that the HAHR has facilitated to continue a dialogue on this topic and its relationship to other issues as historians try to understand Brazil (and Latin America) in the 1960s, 70s, and into the present.
Introdução
“(Homo)Sexo e Revolução”
Qualquer pessoa que assista à parada LGBT de São Paulo no final de cada junho fica imediatamente impressionada com a imensa onda de gente prosseguindo lentamente pela Av. Paulista, andando atrás de trios elétricos e dançando ao ritmo de música disco e pop. Pelos cálculos dos organizadores, em cada um dos últimos anos mais de 3 milhões de pessoas compareceram à maior parada deste tipo no mundo. Desde palanques gigantescos colocados em cima dos trios, drag queens, go-go boys, politicos e militantes do movimento LGBT acenam, entusiasmados, à multidão. As bandeiras vermelhas do PT, PSTU e PSOL tremulam na brisa, e cartazes dos sindicatos e federações nacionais mais militantes proclamam seu apoio aos direitos dos gays e lésbicas e condenam a homofobia.
Pelo número de candidatos e eleitos do PT aclamando a multidão abaixo, poder-se-ia supor que a aliança entre o movimento LGBT e a política de esquerda tivesse existido faz décadas, sem esforços e sem um considerável histórico de conflito. Mas isso, naturalmente, não foi o caso. De fato o caminho à aliança entre setores principais do movimento LGBT e a esquerda brasileira foi longo, tortuoso e forjado em conflitos e tensões.
O trabalho “Quem é o macho que quer me matar?” representa uma tentativa de recuperar um aspecto da história das atitudes da esquerda brasileira sobre a homossexualidade. Aqueles que leram meu primeiro livro Além do Carnaval: a homossexualidade masculina no Brasil do século XX talvez conheçam meus artigos sobre a história do movimento LGBT brasileiro. Aqueles que conhecem minha relação particular a este movimento sabem que a questão da relação da esquerda brasileira com a homossexualidade é um assunto que me interessa faz mais de trinta anos. Porém, antes de trabalhar neste artigo, eu não tinha examinado as formas com que a luta armada dos anos 60 e 70 tinha lidado com integrantes das suas organizações que tinham desejos românticos ou sexuais para as pessoas do mesmo sexo.
Ivan Seixas, o protagonista principal do artigo, me pegou de surpresa com sua franqueza sobre o assunto da homossexualidade quando entrevistei-o pela primeira vez sobre as campanhas internacionais de direitos humanos na defesa dos presos políticos brasileiros. Embora eu não tenha dúvidas de que as transformações ocorridas na esquerda brasileira desde a democratização contribuíram à sua atitude aparentemente indiferente sobre a sexualidade entre as pessoas do mesmo sexo, seu relato da sua experiência na cadeia também revela as complexidades e diversidades de opiniões que sem dúvida circulavam na esquerda revolucionária nas décadas de 60 e 70. Durante a minha pesquisa para uma biografia de Herbert Daniel, um ex-líder do movimento guerrilheiro que depois virou um porta voz importante para pessoas com HIV/AIDS, descobri que a imagem de uma esquerda homofóbica posicionada contra militantes homossexuais vitimados é um forma incompleta e inadequada para abordar o assunto. Há uma história muito mais rica para ser contada.
Aguardo a conversa que a HAHR está facilitando para continuar o diálogo sobre este assunto e sua relação com outros temas enquanto os historiadores procuram entender o Brasil (e a América Latina) nos anos 60 e 70 e até o presente. (Tradução feita por Bryan Pitts, com o conselho de Bruno Bessa e James N. Green.)
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